Nelson Goettert[1]
Riguel Brum de Paula[2]
Tania Micheline Miorando[3]
Introdução
Este
trabalho levou uma turma de surdos a trabalhar com um robô em suas aulas. O
trabalho com o Robokit teve por objetivo levar as crianças a estudarem diversos
conteúdos a partir de estímulos visuais, diante de suas perguntas e respostas. A
educação de surdos apesar de expandir-se em pesquisas, muitos estudos ainda
restringem-se ao conhecimento e estudo a poucos professores surdos, professores
ouvintes que dedicam-se em aprofundar o processo de aquisição de linguagem da
criança surda ou pesquisadores dessas áreas afins.
Este
é um trabalho que foi desenvolvido no Curso de Licenciatura em Computação, da
Universidade de Santa Cruz do Sul – UNISC e Letras Libras – Licenciatura, da
Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC e levou uma turma de surdos a
trabalhar com um robô em suas aulas. O trabalho com o Robokit teve por objetivo
levar as crianças a estudarem diversos conteúdos a partir de estímulos visuais,
diante de suas perguntas e respostas. A metodologia proposta era apresentar
materiais ricos visualmente e explorar o aprendizado da Língua Brasileira de
Sinais e Língua Portuguesa.
Hoje
já se tem pesquisas que comprovam que alguns alunos surdos ao olharem para
desenhos, conseguem memorizar o vocabulário em Língua Portuguesa
e assim aumentar seu vocabulário sem passar pelo trauma do fracasso escolar por
falta de vocabulário.
Os
grupos de vocábulos explorados eram acrescentados a medida que as conversas das
crianças demonstravam interesse em aproximar-se. Assim ,
o olhar atento do professor os instigava a brincar com novas palavras e
imagens. Os estímulos das luzes e movimentos no Robokit interessavam e traziam
as crianças mais próximas aos objetivos propostos para a aula.
Os
alunos surdos não conhecem muito do léxico em Língua Portuguesa
por utilizarem um vocabulário restrito na sala de aula e voltar a utilizá-lo
somente no próximo dia de aula. Há o esquecimento de palavras novas, quando
estão descontextualizadas, no momento da aprendizagem pela falta de informação
e pelo pouco apoio de pais ou amigos em suas conversas em Língua de Sinais.
O
professor que quer trabalhar com surdos precisa observar mais a aula com o
olhar que o surdo lança e modificar o seu fazer pedagógico ao ensinar. Talvez
fosse necessário trazer mais exemplos, estimular os alunos a melhor praticar o
que se estudou em aula. O
movimento nas aulas é muito importante: conseguir entender e ver o crescimento
no desenvolvimento da linguagem das crianças, melhorando as condições no
aprendizado escolar dos alunos.
Os
alunos surdos parecem ter níveis muito diferentes de aprendizado na sala de
aula. Alguns conseguem aprender alguns conceitos mais complexos, mas parece que
cada um na turma está em etapas diferentes no aprendizado. Isto, provavelmente,
pelos diferentes maneiras como são estimulados na aquisição da linguagem – seja
na Língua de Sinais ou Língua Portuguesa (QUADROS & CRUZ, 2011). Alguns
entendem a aula melhor que outros; algumas turmas apresentam diferentes níveis
em relação a outras.
Metodologia
Os
objetivos principais do trabalho com o Robokit focaram-se em levar as crianças
a estudarem diversos conteúdos a partir de estímulos visuais, diante de suas
perguntas e respostas. Os estímulos deram-se a partir de escolhas de imagens
que possibilitavam acoplar luzes sempre que se brincava e se buscava por um
vocábulo novo ou ratificar uma palavra já conhecida.
Muitas
vezes o aluno não conhece a palavra que designa o nome em Língua Portuguesa
de seu correspondente em Língua de Sinais. Isso dificulta seu aprendizado em
aula porque se parar o procedimento ele pode esquecer de novo, pois falta a
informação em Língua de Sinais que não encontrou apoio em seus pais ou amigos
ou na escola.
As
respostas rápidas que o Robokit proporcionava ao acender as luzes provocavam um
raciocínio rápido e melhor contextualizado, por ter as imagens e seus nomes
próximos. As informações visuais para as crianças surdas estão diretamente
ligadas à Língua de Sinais que, ao serem sinalizadas podem ser remetidas à
lembrança das imagens e da escrita em Língua Portuguesa
(RAMIREZ & MASUTTI, 2009).
A
percepção visual era rapidamente estimulada através do uso do robô idealizado
pelo professor surdo, evidenciando a metodologia surda, preconizada nas
pesquisas da educação de surdos. O aluno se vê envolvido pelas luzes que piscam
em pequenas lâmpadas de led do robô.
O
Robokit também apresenta ponteiros indicativos para as respostas das crianças.
Isto fazia com que elas vibrassem ao acertarem as respostas ou continuarem
tentando até acertar. As crianças desenvolviam as atividades em grupo. Eis mais uma
forma de discutirem as respostas entre os colegas.
Há
sempre a necessidade em usar o espaço da escola para participar da aula em que
se lança mais notícias do dia. A vontade em contar as notícias pelas crianças
podem ser realizadas também fora da sala de aula, pois o Robokit pode ser
facilmente levado para outro espaços da escola.
Conclusão
Foi
muito importante proporcionar o conhecimento do ROBOKIT e os conceitos que
foram trabalhados, pois certamente não serão esquecidos pelos alunos. Apesar
das dificuldades no início do trabalho, na montagem do robô e nos desafios diários
entendeu-se que é necessário criar mais materiais tecnológicos para a
estimulação e aprendizado dos alunos surdos.
As
atividades lúdicas evidenciavam a tendência das crianças em utilizarem a
riqueza de expressões visuais, corporais e gestuais que é próprio da Língua de
Sinais (SILVA, 2006). Este aspecto deveria estar muito conectado com as
metodologias de trabalho com alunos surdos.
Ainda
é muito possível encontrar surdos não alfabetizados pela pobreza em estímulos
ao seu aprendizado no período escolar, e não por dificuldade de compreensão,
dado à sua cognição e pensamento (ALMEIDA, 2000). Fatos como esse são muito
confundidos com a compreensão na capacidade de aprendizado dos surdos.
Não
é característica da cultura surda (STROBEL, 2008) a simplicidade da língua
escrita ou sinalizada. Mas poderá ser decorrente dos poucos estímulos recebidos
para o desenvolvimento das habilidades linguísticas.
Foi
muito trabalhado a identidade dos surdos e se discutiu sobre o futuro deles: o
que pensam e como se prepararão para essa nova fase. Talvez eles próprios
possam aperfeiçoar e criar um robô com riqueza visual para auxiliar outros
surdos na sua educação.
O
professor precisa observar a aula pelo olhar de seu aluno surdo e pensar o como
fazer e ensinar novos exemplos, levando-os a aumentar a prática que estimula o
gosto pelo movimento de se conseguir entender novos conceitos e assim levar ao
crescimento e desenvolvimento de seus alunos.
Referências:
ALMEIDA, Elizabeth Oliveira Crepaldi
de. Leitura e Surdez – um estudo com
adultos não oralizados. RJ: Revinter, 2000.
QUADROS, Ronice Muller de; CRUZ,
Carina Rebello. Língua de Sinais –
instrumentos de avaliação. Porto Alegre: Artmed, 2011.
RAMIREZ, Alejandro Rafael Garcia.
MASUTTI, Mara Lúcia. (Orgs) A educação de
surdos em uma perspectiva bilíngue – uma experiência de elaboração de softwares e suas implicações
pedagógicas. Florianópolis : Ed. da UFSC, 2009.
SILVA, Daniele Nunes Henrique. Surdez
e inclusão social: o que as brincadeiras infantis têm a nos dizer sobre esse
debate? IN: Cadernos Cedes/Centro de Estudos Educação e Sociedade – Vol. 69 –
mai/ago, 2006.
STROBEL, Karin. As imagens do outro sobre a Cultura Surda. Florianópolis: Editora
da UFSC, 2008.
[1] Licenciado em Computação e Letras
Libras, Professor Libras na UFRGS – nelson@goettert.com.br
[2] Licenciado em Letras Libras e
Professor Libras na FAMEVACO – higelbrump@yahoo.com.br
[3] Centro Universitário UNIVATES, Centro
de Ciências Humanas e Jurídicas, RS – tmiorando@gmail.com